segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Pés...

Dia 4 de dezembro eu fui a Angra. Foi o dia da festa de fim de ano da empresa, provavelmente a ultima confraternização de fim de ano organizada por mim e resolvi aproveitar cada segundo.
Nossa programação, que foi seguida sem grandes contratempos, era sair cedo do Rio, chegar em Angra, passear de saveiro por Ilha grande e voltar para o Rio.
Numa das paradas, a minha favorita diga-se de passagem, eu resolvi ir até as pedra da Lagoa Azul.
O lugar é fundo, se você não sabe nadar é importante usar as bóias em forma de "macarrão" para não se afogar. Elas dão conta do recado fácil.
Eu desci, tirei fotos dentro da agua com minha prima e, como o mar estava muito forte e ela com medo, ajudei-a a voltar para o barco.
Mais tranquila por sabe que ela estava em segurança, eu resolvi ir até as pedras da margem, onde já estava um colega.
"Nadei" cachorrinho, com o auxilio da bóia, alguns metros e consegui chegar nas pedras!
Me senti o ser mais vitorioso do mundo!
Eu venci um super medo meu (morro de medo de mar, quase morri afogada quando era criança - fui retirada da agua desmaiada) e fui até onde eu tanto queria ir.
Lá eu gritei, fiz farra, tirei foto, esperei um colega, derrubei as bóias na agua, peguei de volta e quase matei o patrão de susto. Ele ficou com medo que eu caísse e claro, estragasse o passeio de todo mundo, porque eu iria me machucar toda!
Não caí. Resgatei minhas bóias e lá fui eu, analisar como voltar ao barco.
Junto com meus colegas, vimos que o melhor caminho era dar voltar nas pedras e sair por um lugar com mais areia.
Mas o mar engana muito.
A profundidade era mascarada pela agua (e pelas cervejas que eu bebi, admito!) e enfiei o pé em alguns buraco, todos com areia no fundo, todos com profundidades diversas.
Ganhei vários cortes no pé, mas confesso que, na hora, só senti um, o mais superficial de todos e mais aparente também, já que foi na parte de cima, onde a pele é mais sensível.
Com força de vontade, e necessidade, claro, estudei uma forma de parar de me machucar e voltar ao barco sem grandes problemas.
Só quando subi é que percebi que meu pé sangrava.
Eu não, minha prima, que ficou assustadissima, eu ri e tirei foto. Pra mim foi um prêmio por ter ido aonde queria, ainda que para isso tivesse que me machucar um pouquinho.
Curti tudo o que podia do passeio, não me preocupei com o pé e só fui descobrir que corte no mar, em pedra com alga, demora a cicatrizar com um amigo no twitter.
Voltei pra casa, mesmo morta fui encontrar um amigo, cheguei de madrugada, dormi até tarde no dia seguinte, quando acordei, é que senti a dor.
O pé doía horrores, dor que continuou por dias.
Comecei a cuidar, percebi as profundidades dos cortes, me acostumei com o band-aid que usei no inicio para proteger da poeira, tive alergia ao band-aid e acabei arrumando mais uma ferida, limitei meu calçado a um sandália que deixava a área machucada livre de contato, viajei, sai, dancei, peguei chuva... vivi!
Duas semanas depois, sem o danado fechar, comprei um remédio que uma amiga me indicou.
Aparentemente secou.
Todos os cortes mais superficiais e o causado pela alergia estavam secos.
Ai fui retirar o que achei que era pele e vi o danado lá, aberto, quase sufocado por aquela pele morta, pronto a infeccionar novamente.
Limpei, mas resolvei deixar ele fechar sozinho, sem remédios, sem band-aid, sem cobertura, sem nada, só com a rotina normal de cuidados e higiene.
O corte, embora ainda esteja lá, ainda um tanto aberto, não doi mais.
Ainda tenho marcas dos outros machucados que em breve irão sumir.
Mas isso não me incomoda em nada hoje.
Ai, de repente, você que leu isso até aqui, me pergunta:
- E o que eu tenho a ver com isso.
Provavelmente nada.
Mas essa situação me fez perceber que as vezes, para conseguir o que queremos, nos arriscamos muito, corremos altos riscos e temos que saber que, ainda que pareçam pequenas, as feridas que muitas vezes sofremos no caminho podem demorar muito para fechar e deixar cicatrizes, as vezes muito aparentes, as vezes escondidas, mas ainda presentes, e que, se a gente realmente consegue vencer um grande medo e encarar as coisas que nos assustam para chegar a algum lugar, o sabor da vitória sobre esses medos tem o poder de nos anestesiar para a dor, mas temos que ficar atentos, pois a dor também nos protege de perigos maiores.
Para mim, valeram a pena esses cortes.
Mas eu sei que tudo poderia ser muito pior se eu não tivesse percebido o momento de mudar o caminho, de trocar de tratamento, de proteger e de liberar a pele para respirar.
E, para mim, esse episódio ficou como um exemplo de como é a vida.
Você tem que estar disposto a pagar o preço e tem que saber que talvez o resultado não compense, mas que a decisão está sempre em suas mãos.
E no fim, nós não estávamos exatamente falando sobre pés, e sim sobre caminhos...

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