quinta-feira, 30 de julho de 2009

Meu ponto no conto

""Acabara de dormir", pensou, "e o telefone já berrava". Um toque que não era o costumeiro para acorda-la. Ao levantar a mão e pegar o telefone, derrubara tudo à volta. O dia começava já sem rumo.

O "Alô?" saiu com uma voz rouca, de quem ainda dormia.

- Outra vez aquele sonho! Não aguento mais, sempre no mesmo dia, todo os meses. Chego a pensar que deve acontecer pela mesma hora e sempre me deixa assim. Preciso acabar com isso. Me ajuda? Eu preciso de você do meu lado. Te pego as nove. - E desligou. Não me deixou nem dizer sim, nem me disse que horas eram, muito menos quanto tempo eu teria. A única coisa que eu sabia naquele momento é que era ela: Clara.

Clara. Um dia, sua alma havia feito jus a seu nome.

Agora ela era uma sombra apenas. Mas ainda me sabia com ela. Então não me perguntou se eu iria, não perguntou se a hora estaria boa, nem se eu podia. Apenas tinha certeza que por ela eu iria e faria o que fosse preciso. Talvez por saber disso é que nem disfarçava mais a voz chorosa que me ligava todos os meses, naquela mesma data, cada vez mais cedo.

Já que eu iria mesmo, sai da cama tentando me localizar no dia. Já eram 7:30 mas eu teria tempo para um banho e um bom café. Sentia falta da alma de Clara, que ficara perdida no passado, acho que um ano atrás, quando os pesadelos começaram. Meus pensamentos me distraíram e o som da buzina de Clara me despertou. Foi o tempo de pegar a bolsa e sair.

Ao entrar no carro, juntei todas as boas lembranças do que um dia foi o sorriso de Clara e tentei um bom dia luminoso. Clara parece ter percebido meu esforço porque esboçou um sorriso que só chegou a pontinha do nariz. - Seus olhos continuaram vazios. - Diante daquele vazio, me calei. Olhava-a de soslaio enquanto observava o caminho em silencio e imaginava o quanto faltaria até chegarmos ao nosso destino - O destino de Clara.

- É logo ali. - Ela pareceu ouvir meus pensamentos. Talvez querendo dizer que tudo já estava acabando. Talvez querendo fugir do silêncio opressivo escondido sob lágrimas que começavam a brotar de seus olhos.

Entramos num bosque muito verde, bonito demais em contraste com a tristeza crescente de Clara. Me distrai com a paisagem, nem reparei que ela havia parado. Tropecei. Foi então que reparei que ela olhava fixamente para um ponto, no qual se ajoelhou lentamente como se sua alma se esvaisse na lágrimas que escorriam de seu rosto.

Aproximando-me vi o que tanto a angustiava.

Rodeado de girassóis, cujo amarelo parecia vivo demais para aquele lugar, estava um túmulo branco, límpido, quase nu, com uma data escrita. Somente uma data. A de nascimento.

De um amor que nascera e, embora enterrado, se recusava a deixar-se morrer."


* A Fernanda contou o conto,
que criou assas com a Aline,
seguiu novos destinos com o Antonio,
brincou de repousar com a Dani,
recomeçou a viagem com a Mariana,
escolheu novos destinos com o Nasca,
dormiu um pouquinho aqui
e agora segue viagem com a Patricia.

5 comentários:

  1. Lindo. Absolutamente lindo.
    Beijo

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  2. Eu me derreti toda, Mari!
    As palavras tuas foram tão docess, encantadas, sabe?

    porque esboçou um sorriso que só chegou a pontinha do nariz. - típico de Clara.

    :* bonita

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  3. Eu gosto dos detalhes sabe? Especificamente nessa brincadeira, coisas que eu gostaria de ter escrito...

    Clara. Um dia, sua alma havia feito jus a seu nome.

    Gostei Mari!
    Beijos de biscoito da sorte!
    ;p

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  4. Tão lindo.. Botou um encanto na historia (re)contada!

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  5. Dindinha, simplesmente amei.
    Super bjs no coração, te amamos muito.

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